Conheça o Bushcraft

Bushcraft Brasil

Falarmos sobre técnicas de Bushcraft, no início do século XXI, pode não ser algo tão simples, quanto apenas citar a definição encontrada em alguns sites, fóruns, vídeos, Wikipédia, etc.

Em termos gerais, a palavra Bushcraft pode ser traduzida para o português como “Arte do Mato”, ou seja, a habilidade de entrar e permanecer em uma região natural, utilizando o mínimo de ferramentas, bem como, possuir um conhecimento sólido acerca dos recursos naturais locais disponíveis para a manutenção da vida humana em tais ambientes. Isso significa conhecer bem a fauna e a flora de sua região (quais animais estão presentes lá; que plantas comestíveis existem naquele local e quais podem ajudar no fornecimento de outros recursos básicos, como corda, fogo, folhas para construção de abrigo, etc). Tal conhecimento pode ser adquirido através do estudo de livros, artigos em revistas, etc, que fornecem informações fundamentais acerca dos aspectos já mencionados.

No entanto, é somente através da experiência adquirida em campo, depois de incontáveis horas, dias e noites quentes ou frias e molhas, de semanas passadas em tais regiões e condições, que se criará o alicerce, sobre o qual todos os caçadores e coletores primitivos aprendiam a obter aquilo de que precisavam para seu sucesso em seus desafios diários, e em sua luta pela sobrevivência.

E quão difícil pode ser para nós, homens modernos, olharmos para trás e entendermos o mundo de nossos ancestrais. Um mundo em que as técnicas de Bushcraft, não eram uma opção “exótica” de vida, esporte ou lazer para seus habitantes, mas sim, aquilo que aumentava a possibilidade de um novo amanhecer para eles, seus filhos e todo o seu clã, já que as garantias de alimento, saúde e vida, eram tão frágeis quanto as ferramentas usadas para se obtê-las.

Para brasileiros urbanos, acostumados às facilidades da vida moderna, em que temos comida e água fresca e boa, 24 horas por dia, 7 dias por semana, quer seja em nossos lares, dentro de nossos refrigeradores ou através de entregas à domicílio, entender o significado desse monte de “coisas de índio”, pode não ser muito fácil. Basta apenas refletirmos sobre quão facilmente podemos conseguir uma chama instantânea, hoje em dia, através de um isqueiro a gás ou fósforos. Entretanto, é somente após passarmos horas (muitas vezes frustrantes) tentando obter o fogo da forma primitiva em uma mata escura, longe da segurança de seu quarto, apartamento ou quintal, é que poderemos, de fato, compreender o significado e a importância que o fogo sempre teve em nossas vidas e a estreita dependência que sempre tivemos dele. Contudo, por mais paradoxal que possa parecer, pela primeira vez na história da humanidade, o homem moderno pode se dar ao luxo de dizer que não necessita mais do fogo para nada, pois ele pode cozinhar através do forno de micro-ondas, ele consegue aquecer sua água e iluminar sua casa utilizando a energia elétrica e, caso ele não seja um fumante, ele viverá uma autonomia em relação ao fogo, até então, completamente inédita em toda nossa história enquanto humanidade sobre este planeta. Na atualidade, chega a ser quase um crime (e em alguns lugares realmente é) acendermos uma fogueira a noite em nosso acampamento (atividade que pré-data nossa espécie).

Podemos considerar, também, todos os aspectos e problemas modernos para se ter e carregar uma faca junto a você diariamente, nos meios urbanos. E apesar de eu não estar aqui defendendo que ninguém ande com uma faca o tempo todo nas cidades grandes, nem nas escolas, etc, não posso deixar de me surpreender (principalmente por levar comigo uma lâmina diariamente por várias décadas) como pôde aquela que foi nossa primeira ferramenta confeccionada de pedra e depois de metal, para nos ajudar em nossa luta pela vida, ter se tornado um objeto associado à prática do mal e digno de ser banido de nosso meio, salvo quando usados para processarmos alimentos como nas cozinhas, etc.
Que estranho esse nosso mundo moderno, quando visto do prisma daqueles viviam aqui antes.
É neste contexto e cenário, que nós, pessoas da atualidade, resolvemos olhar para trás, para o nosso passado remoto e distante, para dentro das cavernas de nossos ancestrais, para podermos buscar essa conexão com esse passado primitivo e resgatarmos e aprendermos a usar novamente, aquelas técnicas responsáveis pelo nosso sucesso dentro e fora das cavernas, e que nos permitiram chegar até onde estamos hoje em dia, como homens modernos, utilizadores de uma tecnologia digital de ponta do séc. XXI, mas ainda assim, conscientes de onde viemos e como chegamos até aqui.

Para mim, a prática do Bushcraft é também uma forma de me conduzir a um caminho de auto-conhecimento e aprendizado acerca de minha vida pessoal, bem como a valorização de aspectos relacionados à pessoas que me cercam. Percebo todo esse emaranhado humano de ideias, experiências e vivências milenares que se unem e cada vez que nos assentamos à sós ou acompanhados, diante de uma fogueira a noite, essa teia se desdobra e continuará a ser tecida, por todas as futuras gerações de mateiros e bushcrafteiros brasileiros do passado, do presente e por aqueles que ainda virão.

Estando nós “deitados sobre berço tão esplêndido” e sendo nós, ainda, “gigantes pela própria natureza”, temos o dever de zelar por todas as áreas que Deus, em Sua Graça, nos concedeu para desfrutarmos de uma natureza e recursos que fariam Ray Mears, Mors Kochansky ou qualquer outro bushcrafter de verdade, sentir inveja de nossa matas e regiões.

Mas aqui, nós, ainda, podemos nos dar ao luxo de termos acesso a áreas rurais que esses grandes nomes gostariam muito de ter o privilégio de usufruir.

Fico muito honrado e grato pela possibilidade de poder escrever este artigo e sei que este site, já é um marco na prática desse esporte em nosso país, por ajuntar sob suas asas, todos aqueles brasileiros e estrangeiros falantes do português, que outrora andavam espalhados pelas matas e canais do YOUTUBE, e que agora possuem essa grande tenda sob a qual poderemos nos assentar diante do fogo do conselho, para debatermos e discutirmos de forma construtiva e saudável, tudo aquilo que traremos conosco do mato, para dentro dos fóruns, vídeos e discussões que ocorrerão dentro dessa nova casa que todos nós, praticantes do Bushcraft e mateiros do Brasil, recebemos de nosso amigo Lopez Fry e tantos outros que auxiliaram e ajudam a manter nosso novo lar!

Parabéns Brasil!

BUSHCRAFT BRASIL!

Giuliano Deinner Toniolo

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